A Recepção de Epicteto do conceito estoico de pithanon (persuasivo)
Resumo: O tema da persuasão é de extrema importância no estoicismo, pois esta filosofia parte do princípio de que as virtudes cardeais e suas sub-espécies são elas mesmas essencialmente formas de conhecimento e que os vícios são ausência de conhecimento. Dessa forma, dar assentimento a falsas opiniões significa afastar-se da virtude e incorrer no vício, distanciando-se do conhecimento e mergulhando na ignorância. Torna-se, assim, crucial desenvolver a capacidade de recusar o assentimento a proposições, argumentos e phantasiai falsos, mas persuasivos, isto é, que parecem verdadeiros não o sendo. Esta cuidado quanto ao ato de assentimento se reflete na teoria estoica das duas fontes da corrupção da alma humana, quais sejam, dar assentimento a falsas opiniões e a phantasiai persuasivas, mas falsas.
A palavra grega pithanon (persuasivo) e termos relacionados ocorrem nos fragmentos dos antigos estoicos em diversos sentidos. Três deles nos interessam aqui: o persuasivo aplicado às phantasiai em geral, o persuasivo relativo a proposições e argumentos e o persuasivo aplicado ao conteúdo perceptivo das phantasiai.
O tema da persuasão e do cuidado que devemos ter diante do persuasivo de modo a não errarmos em nosso assentimento é abordado por Epicteto em diversas partes de sua obra. Nosso objetivo nesta pesquisa é investigar as reflexões dos estoicos em geral e de Epicteto em particular sobre o persuasivo nos âmbitos das phantasiai, dos conteúdos proposicionais das phantasiai (proposições e argumentos) e dos conteúdos perceptivos das phantasiai (percepções e sensações que recebemos dos objetos físicos externos à razão).
Para compreendermos o persuasivo relativo às phantasiai, investigaremos as taxonomias estoicas do conceito de phantasia, buscando estabelecer a relação entre phantasiai verdadeiras e falsas e persuasivas e não-persuasivas. Uma vez tendo feito isso, verificaremos qual uso Epicteto faz dessas taxonomias e se esse uso é consistente com a ortodoxia estoica, em especial quando Epicteto nos apresenta uma taxonomia das phantasiai aparentemente original, que parece combinar os pares dicotômicos persuasivo/não-persuasivo e verdadeiro/falso.
Realizaremos, a seguir, um estudo sobre o persuasivo no âmbito da lógica lógica, do qual nos chegaram referências em títulos de livros perdidos de Crisipo e também na definição de axioma persuasivo que nos é apresentada por Diógenes Laércio. Nesse sentido, sofismas são instâncias de argumentos persuasivos, porém falsos. Em seguida, investigaremos como Epicteto se apropria do aparato conceitual da lógica estoica em sua filosofia, em especial no que concerne ao terceiro tópico de sua filosofia, consagrado ao tema do assentimento e do persuasivo, no qual nosso filósofo reúne ferramentas lógicas que, segundo ele, são capazes de nos auxiliar na importante tarefa de negar assentimento a proposições e argumentos falsos, mas persuasivos.
Quanto à persuasividade dos conteúdos perceptivos das phantasiai, investigaremos três interpretações, das quais duas se remetem à concepção monista estoica ortodoxa da alma humana, enquanto a terceira, de Possidônio, rompe com tal monismo e se aproxima da concepção tripartite platônica. Para as duas primeiras, o impulso (horme) é, em sentido estrito, racional, enquanto para a terceira ele pode se originar tanto da razão quanto de uma capacidade irracional da alma.
Após investigarmos essas três teses, nos debruçaremos sobre o uso que Epicteto faz do conceito de impulso, averiguando se nosso filósofo adere à tese monista ortodoxa da alma, que implica que a persuasividade das conteúdos perceptivos das phantasiai se remete em última análise a conteúdos proposicionais ou se, rompendo com tal ortodoxia, adere à concepção possidoniana, segundo a qual a persuasividade dos conteúdos perceptivos das phantasiai pode ter origem irracional e imagética.
Por fim, em nossas conclusões, faremos um levantamento dos resultados obtidos nas pesquisas sobre os temas supracitados, de modo a avaliar, no que se refere às phantasiai e aos conteúdos proposicionais e perceptivos das phantasiai, em que medida, Epicteto oferece contribuições originais à reflexão sobre o persuasivo, constituindo uma filosofia da persuasão que lhe é própria, e em que medida é fiel às reflexões de seus antecessores estoicos.
Data de início: 2022-03-03
Prazo (meses): 36
Participantes:
Papel | Nome |
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Coordenador | Aldo Lopes Dinucci |