Do sentido ao problema da verdade na Fenomenologia Transcendental: implicações da ressignificação transcendental do conceito de transcendência na adaequatio rei et intellectus husserliana.
Nome: JOÃO MARCELO SILVA DA ROCHA
Data de publicação: 12/06/2024
Banca:
Nome | Papel |
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CARLOS DIÓGENES TOURINHO | Examinador Externo |
FLÁVIO VIEIRA CURVELLO | Examinador Externo |
JORGE AUGUSTO DA SILVA SANTOS | Presidente |
ROBERTO WU | Examinador Externo |
SANDRO MÁRCIO MOURA DE SENA | Examinador Externo |
Resumo: A presente tese desenvolve reflexões acerca dos conceitos de verdade e transcendência tal qual se manifestam especialmente na Fenomenologia de Edmund Husserl, com o objetivo geral de analisar implicações do significado de “transcendência” na concepção correspondencial da verdade vigente no pensamento husserliano. Estruturada em cinco capítulos, a investigação inicia delineando o sentido tradicional de verdade enquanto correspondência em seus aspectos estruturantes e a problemática emergente na configuração da relação entre sujeito cognoscente e objeto cognoscível a partir de delimitações específicas do conceito de transcendência. Em seguida, são analisados os conceitos de “verdade” e “evidência” propugnados por Husserl nas Investigações Lógicas, momento no qual se demarcam os quatro sentidos fenomenológicos de “verdade” exposto no §39 da 6a Investigação Lógica e a primazia da acepção “ser verdadeiro” na determinação dos demais sentidos de verdade é ressaltada. O terceiro capítulo explora os sentidos de “transcendência” e “imanência”, examinando a ressignificação desses conceitos promovida com a passagem para a Fenomenologia Transcendental e como ela reconfigura a relação entre subjetividade e objetalidade, revelando aquela como constituinte e esta como constituída. Tal transformação sugere a perda da autonomia do transcendente perante a subjetividade, pressuposto da verdade correspondencial. No quarto capítulo, procede-se semelhantemente ao empreendido no segundo, concentrando-se, porém, na descrição husserliana dos sentidos de “verdade” e “evidência” em obras da fase transcendental da
Fenomenologia. O objetivo dessa análise é demonstrar que a caracterização formal de tais conceitos permanece conforme os parâmetros estabelecidos nas Investigações Lógicas, o que vai de encontro ao que as transformações discutidas no terceiro capítulo poderiam sugerir, e que a primazia da acepção de “verdade” atribuída ao objeto também se mantém na versão transcendental do pensamento husserliano. Diante disso, estabelece-se o problema em torno das implicações de “transcendência” na concepção husserliana da verdade, tema do quinto e último capítulo: inicialmente, explicita-se como a verdade correspondencial adquire contornos problemáticos nas Investigações Lógicas, justamente devido à acepção de “transcendente”adotada nessa obra. E, por fim, propõe-se uma justificativa para a manutenção da verdade correspondencial na Fenomenologia Transcendental em face das implicações do conceito especificamente fenomenológico-transcendental de transcendência. Tal proposta interpretativa
é apresentada por meio da demarcação de uma dupla camada constitutiva concernente ao polo objetal da relação intencional comprometida com a consecução do conhecimento verdadeiro. Com base na descrição dos processos constitutivos realizados em cada uma delas, derradeiramente, sustenta-se que a autonomia do transcendente ante a relação veritativa, exigência inscrita na concepção correspondencial da verdade, é garantida pela constituição do transcendente enquanto tal, realizada na camada fundante, e a dependência constitutiva do transcendente enquanto verdadeiro com relação à subjetividade, imposta pela redução
transcendental, é expressa na síntese de preenchimento evidente realizada na camada fundada.