O IDIOTA DE JESUS: A HIPÓTESE LITERÁRIA E A HIPÓTESE MÉDICA COMO INDICATIVOS DE UMA POSIÇÃO TRANSVALORADA EM NIETZSCHE.

Nome: Wesley de Jesus Barbosa
Tipo: Dissertação de mestrado acadêmico
Data de publicação: 14/04/2020
Orientador:

Nomeordem decrescente Papel
Jorge Luiz Viesenteiner Orientador

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
Henry Martin Burnett Junior Examinador Externo
Jorge Luiz Viesenteiner Orientador
José Renato Salatiel Suplente Interno
Wander Andrade de Paula Examinador Interno

Resumo: RESUMO
A presente dissertação de mestrado trata de como o tipo Jesus elaborado por
Nietzsche em seu O Anticristo apresenta-se como desprovido de vontade de poder. A
hipótese literária e a hipótese médica enunciam-se como ferramentas para a análise do
tipo, porém não inserem-se no debate como a provocar dicotomias, ao contrário, servem
como indicativos a uma posição transvalorada. Ou seja, na medida em que a não reação
de Jesus remete-se a uma transvaloração de todos os valores porque rompe com os
preceitos morais e a cultura do ressentimento, o texto dissertativo, outrossim, comunicase com o objetivo geral no sentido de romper as fissuras inserindo no corpo semântico
uma interpretação que não qualifique esta ou aquela tese como mais profícuas ao
trabalho numa perspectiva de uma nulidade de contraponto. Mas que obedecendo aos
limites de uma insustentável leveza da interpretação justifique-se pelos conceitos da
hipótese médica sem perder a liberdade literária. No campo de forças destas duas
hipóteses se perde o dualismo em prol de um acontecimento primordial: a interpretação.
A hipótese literária de Renato Nunes Bittencourt busca em Dostoiévski a
comunhão tipológica de Jesus pela análise do príncipe Michkin, protagonista do livro O
Idiota. Assim, criei as categorias o esquecido, o sujeito privado, o não-reativo, o
apolítico e o pueril para analisar a dinâmica psicológica de Míchkin e Jesus. Tais
características não são axiomas, são tentativas de fixar temporariamente uma
interpretação, já sabendo que o real é inapreensível numa formalidade conceitual
determinística e transcendental. Esta hipótese fora significativa na recuperação de O
Anticristo como texto filosófico, na medida em que desmontou a carapaça
preconceituosa criada para desmerecer o trabalho do filósofo afirmando a
inautenticidade do texto como mero panfleto blasfemo ou delírio de uma mente que já
mostrava sinais de que sucumbiria. Mas este argumento tem seus limites hermenêuticos.
A hipótese médica de Allan Sena passa pelos textos de Morel e Féré defendendo
a tese de que o idiota de Jesus não é uma referência ao príncipe Michkin, mas uma
construção produzida pelo contato de Nietzsche com a literatura médica muito em voga
entre os intelectuais do século XIX. Aliás, o próprio Dostoiévski, segundo Sena, teria
formulado o príncipe Míchkin sob tal influência. Que a idiotia, portanto, corresponderia
a um transtorno psiquiátrico que retardaria o desenvolvimento da pessoa numa época
ainda bem infantil.
12Todavia, a novidade desta dissertação e pretensão a uma filosofia do futuro, não
é polarizar o debate, mas inseri-lo num acontecimento hermenêutico. Dando a literatura
a sua rigorosidade epistemológica entrelaçando-a a uma teoria médica tão dura na sua
verdade que talvez precisasse da leveza da ambiguidade das palavras que criam mundos
de metáforas. Porque a medicina tão verdadeira na sua utilidade deu palpites sobre o
mundo e as pessoas que, muito diferente de explicar objetivamente a realidade, acabou
por mascará-la em preconceitos e esteriótipos. E os poetas, despreocupados com o real,
inventaram fábulas para falar do mundo. Ciência e arte não se anulam como sistemas ou
hipóteses explicativas, elas interpretam o mundo, a seu modo, e tais modos não são
melhores ou piores. A vida sem arte seria lastimável. A vida sem a medicina seria curta
demais. A hipótese literária e a hipótese médica indicam uma posição transvalorada não
apenas porque sustentam que a beatitude do tipo Jesus efetiva-se por sua vivência
desprovida de vontade de poder, mas porque enquanto arranjos deste texto
argumentativo enveredam-se pelos contornos ousados de uma insustentável leveza da
interpretação.
Palavras-chave: vontade de poder, hipótese literária, hipótese médica, Jesus, Míchkin,
valores morais e ressentimento.

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