Summary: O objetivo da pesquisa é analisar a possibilidade de normatividade moral oriunda da práxis autogenealógica em Nietzsche, por meio dos conceitos de autorreferencialidade e autopoiesis. Partindo de um panorama
crítico da filosofia moral moderna, por um lado, a filosofia utilitarista inglesa e a filosofia kantiana alemã e, por outro lado, os conceitos metafísicos que sustentam tais filosofias morais modernas - sujeito, Eu, vontade livre, causalidade, etc., - Nietzsche diagnostica um problema comum a ambas as tradições morais: as duas estão carregadas pelo pressuposto de uma moralidade que não conseguem formular como problema, isto é, ambas tentam apenas fundamentar a moral, mas a moral mesma é tomada como “dada [...] e além qualquer questionamento.” (GM Prólogo 6) Em termos específicos, isso significa que os ingleses, ao falar da utilidade do não-egoísmo, possuem a moral cristã sedimentada em seus juízos morais (GC 345); e igualmente Kant,
que ao apenas tentar fundamentar a moral, não questiona a própria moral cristã, tomando-a como “dada” (ABM 186). Ambas filosofam, portanto, sob a influência canônica da moral cristã e, por extensão, toda
crítica à moral é orientada por certos pressupostos morais. Este panorama crítico implica dois desafios: para falar de normatividade, 1) Nietzsche não pode mais apelar aos conceitos metafísicos de sujeito, Eu, vontade livre, etc., e, sobretudo, 2) tem de reconhecer que igualmente sua crítica está engajada com pressupostos dos quais ele também não formula.

A hipótese de solução ao primeiro desafio é remontar a normatividade em Nietzsche a certo minimalismo moral: a ideia de que já sempre estamos em uma determinada situação, em torno da qual sabemos mais ou menos as regras do jogo, de modo a prescindir das categorias metafísicas e cumprindo aquilo que Nietzsche exige de todo método: “economia de princípios.” (ABM 13) Isso significa, p.ex., que Nietzsche se distancia da necessidade de primeiramente fundamentar um Sujeito, para só depois justificar a normatividade; ao contrário, sempre estamos em uma situação minimalista de moral, mas situados de uma maneira peculiar, a saber, engajados com pressupostos morais que tomamos inconscientemente como dados. A hipótese de solução ao segundo desafio remonta à práxis autogenealógica. Trata-se de um procedimento
autorreferencial, e significa que a crítica de Nietzsche a uma cultura ou tradição moral tem de ser entendida, simultaneamente, como autocrítica. Assim, se Nietzsche critica a cultura alemã, critica simultaneamente a si próprio enquanto alemão. A práxis autogenealógica é o que permite Nietzsche formular seus pressupostos
que orientam sua crítica, na medida em que enxerga sua perspectiva por meio da cultura ou moral criticada.
A autorreferencialidade autogenealógica faz emergir pressupostos morais sedimentados, na medida em que implica um embate com uma alteridade (pessoa, moral, cultura), por meio da qual conheço melhor a mim mesmo. Nesse modelo crítico, a normatividade é construída imanente à própria situação: a autorreferencialidade crítica faz emergir os pressupostos morais, empregando-os como elemento orientador
de uma nova ação. Nesse caso, a construção da normatividade é também autopoiética.'

Starting date: 2019-03-01
Deadline (months): 36

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Coordinator * Jorge Luiz Viesenteiner
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