A “culturalização do religioso” em contexto secular: a ética-hermenêutica de Vattimo em relação com a cultural politics de Rorty

Resumo: Rorty e Vattimo consideram as questões a respeito da “verdade” e do “conhecimento” como fruto de uma busca pela “concordância universal intersubjetiva” (RORTY & VATTIMO, 2006, 55). A esfera religiosa não deveria participar dessa busca, numa tentativa de enfrentamento e competição com a metodologia de investigação empírica. A “arena epistemológica” está fortemente marcada pelos desafios epistemológicos e políticos colocados pela ciência natural (RORTY & VATTIMO, 2006, 53). A teologia natural não resistiu às críticas modernas de Hume e de Kant feitas a ela, reduzindo-a a “um ‘mero’ veículo de satisfação emocional” (RORTY & VATTIMO, 2006, 56).
A tricotomia kantiana das esferas culturais há de ser superada pela interpenetração e interação contínua entre elas, transformando a epistemologia por processos políticos de “cooperação social”. Hoje em dia a divisão e autonomia entre as esferas culturais se baseiam numa cooperação mútua e não numa inconsistente rivalidade entre si, como a que marca a tensão existente entre os domínios da ciência e da religião, sobretudo por meio das instituições que as representam. Diante disso, salienta Rorty, o melhor caminho para se resolver problemas como esse, sem transcender a contingência histórica, dá-se “com a ironia exercida privadamente em relação ao próprio predecessor do que à sua relação com a verdade” (RORTY & VATTIMO, 2006, 29), a exemplo da literatura.
Resguardando o caráter comunitário da experiência religiosa, proporíamos que a expressão “bens imateriais” são, de maneira especial, uma redescrição democrática e “estética” da esfera religiosa. Redescrição que libertaria a religião de sua ênfase institucional e dogmática para assumir uma condição estético-cultural. Assim, tais construções estético-religiosas estariam, além disso, em conformidade com a literatura em sua possibilidade e abertura para sempre novas redescrições metafóricas, numa espécie de “panteísmo romântico” (RORTY & VATTIMO, 2006, 106), para usar as palavras de Rorty.
Em nossos dias, vemos que as instituições religiosas são apenas uma das vozes que compõem a sociedade civil. Daí a leitura positiva de Rorty e Vattimo quanto ao que seria um “elogio” de Nietzsche à herança cristã a sua afirmação de que “a democracia é o cristianismo tornado natural. (RORTY & VATTIMO, 2006, 99). Independente, no entanto, do aspecto institucional do religioso, há de se reconhecer que essas manifestações culturais do religioso participam da diversidade cultural de nosso povo. Esses grupos estético-culturais, apesar de nem sempre estarem organizados institucionalmente, devem ter uma “proteção jurídica” de sua produção simbólica, em boa parte das vezes, de “fundo religioso”. A fruição distraída, monumental e ornamental do religioso parece ser uma chance especial de retomada do vínculo entre arte e mundo em nossa condição atual de metáforas não-hierarquizadas entre os diversos saberes e de valorização de eventos ordinários e cotidianos.

Data de início: 2014-08-01
Prazo (meses): 24

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Coordenador Marcelo Martins Barreira
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